Prevenção começa em casa: contribuições da neurociência

Autores

  • Maria Paula Magalhães Tavares de Oliveira Universidade de São Paulo (USP)

Palavras-chave:

Dependências, prevenção, desenvolvimento, arquétipo, epigenética

Resumo

O aumento do uso de drogas e de outros comportamentos que também provocam dependência é evidente no mundo contemporâneo, assim como a dificuldade no tratamento das dependências. Os achados da neurociência podem contribuir, dando subsídios para a prevenção dessa patologia. O presente trabalho aborda a importância do processo de tomada de decisão nas dependências, enfocando o cérebro do adolescente, e enfatiza o papel da intersubjetividade no desenvolvimento. Estudos recentes que descrevem alterações epigenéticas relacionadas a adversidades sofridas na vida precoce são apresentados, assim como dados que mostram que algumas alterações podem ser revertidas por meio da qualidade do vínculo com o cuidador. A prevenção é discutida como ação que começa com a humanização dos arquétipos da grande mãe e do pai, e continua vida afora, uma vez que as adversidades podem contribuir para gerar sintomas ou resiliência, dependendo da intensidade do agente estressor, da maturidade do sistema nervoso e da relação entre criança e cuidador, quer sejam eles pais, parentes, professores, amigos, analistas, enfim, pessoas com as quais seja possível estabelecer uma relação significativa.

Biografia do Autor

Maria Paula Magalhães Tavares de Oliveira, Universidade de São Paulo (USP)

Doutora em psicologia experimental pelo Instituto de Psicologia da USP; analista membro da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica; colaboradora do Projeto Quixote.

Referências

BAUMAN, Z. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

BOCK, J.; RETHER, K.; GRÖGER, N.; XIE, L.; BRAUN, K. Perinatal programming of emotional brain circuits: an integrative view from systems to molecules. Frontiers in neuroscience, v. 8. p. 1-11, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.3389/fnins.2014.00011. Acesso em: 17 mai. 2015.

CAO-LEI, L.; MASSART, R.; SUDERMAN, M. J. et al. DNA methylation signature triggered by prenatal maternal stress exposure to a natural disaster: Project Ice Storm. Plos One, v. 9, n. 9, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0107653. Acesso em: 17 mai. 2015.

CASEY, B. J.; JONES, R. M.; SOMERVILLE, L. H. Braking and accelerating of the adolescent brain. Journal of Research on Adolescence, v. 1, n. 21, p. 21-33, 2011. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3070306/. Acesso em: 5 mai. 2015.

CASEY, B. J.; CAIDLE, K. The teenage brain: self control. Current directions in psychological science, v. 22, n. 2, p. 82-87, 2013. Disponível em: http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0963721413480170. Acesso em: 5 mai. 2015.

CONTI, G.; HANSMAN, C.; HECKMAN, J. J.; NOVAK, M. F. X.; RUGGIERO, A.; SUOMI, S. J. Primate evidence on the late health effects of early-life adversity. PNAS, v. 109, n. 23, p. 8866-8871, 2012. Disponível em: http://www.pnas.org/content/109/23/8866. Acesso em: 17 mai. 2015.

DAMÁSIO, A. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

DETTMER, A.; SUOMI, S. J. Nonhuman primate models of neuropsychiatric disorders: influences of early rearing, genetics, and epigenetics. ILAR Journal, v. 55, n. 2, p. 361-370, 2014. Disponível em: https://academic.oup.com/ilarjournal/article/55/2/361/645985/Nonhuman-Primate-Models-of-Neuropsychiatric. Acesso em: 10 mai. 2015.

EIGSTI, I.-M.; ZAYAS, V.; MISCHEL, W. et al. Predicting cognitive control from preschool to late adolescence and young adulthood. Psychological Science, Washington DC, v. 17, n. 6, p. 478-484, 2006.

GALIAS, I. Pais e filhos: uma rua de mão dupla. Junguiana, São Paulo, n. 21, p. 69-80, 2003.

JUNG, C. G. Símbolos da transformação. Tradução Eva Stern. Petrópolis, RJ: Vozes, 1989. (Obras completas de C. G. Jung, v.5).

LUPIEN, S. J.; MCEWEN, B. S.; GUNNAR, M. R.; HEIM, C. Effects of stress throughout the lifespan on the brain, behavior and cognition. Nature Reviews Neuroscience, v. 10, n. 6, p. 434-45, 2009. Disponível em: http://www.nature.com/nrn/journal/v10/n6/abs/nrn2639.html. Acesso em: 02 dez. 2015.

MEANEY, M. J.; SZYF, M. Environmental programming of stress response through DNA methylation: life at the interface between a dynamic environment and a fixed genome. Dialogues in Clinical Neuroscience, Paris, n. 7, p.103-123, 2005.

MISCHEL, W., SHODA, Y.; RODRIGUEZ, M. I. Delay of gratification in children. Science, Washington DC, v. 244, n. 4907, p. 933-338, 1989.

MONK, C.; SPICER, J.; CHAMPAGNE, F. A. Linking prenatal maternal adversity to developmental outcomes in infants: the role of epigenetic pathways. Development and Psychopathology, v. 24, n. 4, p. 1361-1371, 2012. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3730125/. Acesso em: 15 mai. 2015.

NESTLER, E. J.; MALENKA, R. C. The addicted brain. Scientific American, New York, v. 290, n. 3, p. 78-85, 2004.

OLIVEIRA, M. P. M. T. Dependências: o homem a procura de si mesmo. São Paulo: Ícone, 2005.

OLIVEIRA, M. P. M. T. Internet e o risco da desmedida. Junguiana, São Paulo, v. 32, n. 1, p. 30-38, 2013.

PALMINI, A. A tomada de decisão e as patologias da vontade: o cérebro em constante conflito. In: GIGLIOTTI, A.; GUIMARÃES, A. Dependência, compulsão e impulsividade. Rio de Janeiro: Rubio, 2007. p. 1-7.

PROVENÇAL, N.; SUDERMAN, M. J.; GUILLEMIN, C. et al. The signature of maternal rearing in the methylome in rhesus macaque prefrontal cortex and T cells. The Journal of Neuroscience, v. 32, n. 44, p. 15626-15642, 2012. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23115197. Acesso em: 17 mai. 2015.

RIZZOLATTI, G.; ARBIB, M. A. Language within our grasp. Trends in neurosciences, Cambrige, MA, v. 21, n. 5, p.188-194, 1998.

SAÑUDO, A.; ANDREONI, S.; SANCHEZ, Z. M. Polydrug use among nightclub patrons in a megacity: a latent class analysis. International Journal of Drug Policy, 2015. Disponível em: http://www.baladacomciencia.com.br/images/arquivos/Sanudo%20et%20al%202015%20IJDP.pdf. Acesso em: 2 nov. 2015.

STERN, D. N. The interpersonal world of the infant. Nova York: Basic Books, 2000.

STERN, D. N. O momento presente na psicoterapia e na vida cotidiana. Rio de Janeiro: Record, 2004.

TREMBLAY, R. E. Developmental origins of disruptive behavior problems: the ‘original sin’ hypothesis, epigenetics and their consequences for prevention. Journal of Child Psychology and Psychiatry, London, v. 51, n. 4, p. 341-367, 2010.

VERDEJO-GARCÍA, A.; BECHARA, A. A somatic-marker theory of addiction. Neuropharmacology, v. 56, n. 1, p. 48-62, 2009. Disponível em: http://www.fafich.ufmg.br/cogvila/criancaadolescente/bechara_2008.pdf. Acesso em: 23 mai. 2015.

YAN, W.-S.; LI, Y.-H.; XIAO, L.; ZHU, N.; BECHARA, A.; SUI, N. Working memory and affective decision-making in addiction: a neurocognitive comparison between heroin addicts, pathological gamblers and healthy controls. Drug and Alcohol Dependence, v. 134, p. 194-200, 2013. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24268669. Acesso em: 23 mai. 2015.

Downloads

Publicado

12-02-2017

Como Citar

Oliveira, M. P. M. T. de. (2017). Prevenção começa em casa: contribuições da neurociência. JUNGUIANA , 35(1), 21–31. Recuperado de https://junguiana.sbpa.org.br/revista/article/view/268

Edição

Seção

Artigos