“África, o fio”: sobre a presença ancestral no inconsciente

Autores

  • Ana de Oliveira Urpia Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

DOI:

https://doi.org/10.70435/junguiana.v41i1.26

Palavras-chave:

Ancestralidade, Psicologia Analítica, inconsciente, África, Jung

Resumo

Questionando o pensamento opositivo que terminou por exagerar as diferenças entre África e “Ocidente”, pretendemos: 1) fazer uma aproximação ao sentido de ancestralidade na África tradicional, sobretudo através da obra do filósofo ganense Kwase Wiredu, 2) apresentar a noção de “complexo [ou imagem] ancestral” em Jung, de modo a refletir sobre a “presença ancestral” no inconsciente junguiano e sua atuação na dinâmica psíquica. Nosso objetivo é ensaiar uma “comunicação transcultural” entre o pensar tradicional africano e o pensar junguiano, partindo do pressuposto de que há entre eles aproximações. Concluímos que uma clínica fundada no princípio da ancestralidade não nega as raízes do pensamento junguiano, ao contrário, aprofunda um aspecto da obra de Jung que à sua época sofreu muitas críticas, haja vista o olhar colonialista do mundo europeu para as Áfricas e as dificuldades da psicologia em tratar os chamados “fenômenos religiosos e anomalísticos” como “fatos psíquicos”.

Biografia do Autor

Ana de Oliveira Urpia, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Professora Adjunta da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Doutora em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Analista Candidata do IPABahia.

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Publicado

30-07-2023

Como Citar

Urpia, A. de O. (2023). “África, o fio”: sobre a presença ancestral no inconsciente. JUNGUIANA , 41(1), 155–168. https://doi.org/10.70435/junguiana.v41i1.26

Edição

Seção

Artigos