A contaminação da paranoia: adoecimentos coletivos e a literatura distópica
DOI:
https://doi.org/10.70435/junguiana.v43.285Palavras-chave:
Paranoia, Massificação, Distopia, Psicologia AnalíticaResumo
Este artigo objetiva uma reflexão sobre a paranoia usando exemplos magnificamente retratados no imaginário da literatura e do cinema de gênero distópico. São tecidas considerações sobre o transtorno paranoide na psiquiatria dinâmica e os fenômenos de cultura de massa e suas manifestações contemporâneas. Um dos focos versa sobre a sociedade tecnológico-dependente e seu nivelamento utilitarista. Aborda-se a exacerbação emocional em discursos e comportamentos de ódio fomentados pelos componentes paranoides da psique individual e coletiva. Incentivam-se, assim, ideias e sentimentos de cunho paranoide, instigadas por figuras de poder inescrupulosas: o perseguidor e o perseguido. Considerada na psiquiatria uma doença do significado e da estranheza, uma desordem psíquica fundamentada por rígidas convicções e constantes conspirações que se autoconfirmam, há uma transposição para as relações consigo e com o mundo do sujeito paranoico. Ocorre o fenômeno de desligamento da realidade, o fechamento em um circuito de projeções e defesas contra supostos inimigos. A soberania do significado único que repele a multiplicidade cria situações de temor e de rancor em um mundo controlado por informações imediatas e permeado por incertezas, que estimula o narcisismo, a desconfiança e o consumismo midiático.
Referências
American Psychiatric Association. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais – DSM-5. 5ª.ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
Asimov, I. (2014). Eu, robô. São Paulo: Aleph. (Texto original publicado em 1950). Bradbury, R. (2012). Fahrenheit, 451. 2ª ed. São Paulo: Globo. (Texto original publicado em 1953).
Bleuler, E. (1942). Afectividad, sugestibilidad, paranoia. Madrid: Morata.
Bleuler, E. (1960). Demencia precoz: el grupo de las esquizofrenias. Buenos Aires: Hormé.
Colman, W. (2010). Something wrong with the world: towards an analysis of collective paranoia. In: M. Stein, R. A. Jones (Ed.). Cultures and identities in transition: Jungian perspectives. Routledge: New York.
Dalgalarrondo, P. (2008). Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed.
Dick. P. K. (2019). Androides sonham com ovelhas elétricas? 3ª ed. São Paulo: Aleph.
Freud, S. (1969). Psicologia de grupo e a análise do ego. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. XVIII). Rio de Janeiro: Imago. (Texto original publicado em 1921).
Galimberti, U. (2009). Man in the age of technology. Journal of Analytical Psychology, 54(1) 3-17. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1468-5922.2008.01753.x
Graham. S. (2016). Cidades sitiadas: o novo urbanismo militar. São Paulo: Boitempo.
Han, B. C. (2015). Sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes.
Han, B. C. (2017). Sociedade da transparência. Petrópolis: Vozes.
Han, B. C. (2018). No enxame: perspectivas do digital. Petrópolis: Vozes.
Han, B. C. (2022). Infocracia: digitalização e a crise da democracia. Petrópolis: Vozes.
Harari, Y. N. (2018). 21 lições para o século 21. São Paulo: Companhia das Letras.
Hillman, J. (2016). Paranoia. 4ª ed. Petrópolis: Vozes.
Huxley, A. (2009). Admirável mundo novo. 22ª ed. São Paulo: Globo.
Jaspers, K. (1979). Psicopatologia geral. 2ª ed. Rio de Janeiro: Atheneu.
Jung, C. G. (1977). Psychotherapy today. In C. G. Jung. The practice of psychotherapy. (OC, Vol. 16). Princeton: Princeton University Press. (Texto original publicado em 1946).
Jung, C. G. (2011a). Prólogo aos “Estudos sobre a psicologia de C. G. Jung”, de Toni Wolff. In C. G. Jung. Civilização em transição. 4ª ed. (OC, Vol. 10/3). Petrópolis: Vozes. (Original publicado em 1959).
Jung, C. G. (2011a). O que a Índia pode nos ensinar. In C. G. Jung. Civilização em transição. 4ª ed. (OC, Vol. 10/3). Petrópolis: Vozes. (Original publicado em 1939).
Jung, C. G. (2011b). Psicologia da missa. In C. G. Jung. O símbolo da transformação na missa. 6ª ed. (OC, Vol. 11/3). Petrópolis: Vozes. (Original publicado em 1942).
Jung, C. G. (2011c). Determinantes psicológicas do comportamento humano. In C. G. Jung. A natureza da psique. 6ª ed. (OC, Vol. 8/2). Petrópolis: Vozes. (Original publicado em 1936).
Jung, C. G. (2011d). A psicologia da transferência. In C. G. Jung. Ab-reação, análise dos sonhos e transferência. 7ª ed. (OC, Vol.16/2). Petrópolis: Vozes. (Original publicado em 1946).
Jung, C. G. (2012a). Presente e futuro. 7ª ed. (OC, Vol. 10/1). Petrópolis: Vozes. (Original publicado em 1957).
Jung, C. G. (2013). Relação da psicologia analítica com a obra de arte poética. In O espírito na arte e na ciência. 8ª ed. (OC, Vol. 15). Petrópolis: Vozes. (Texto original publicado em 1922).
Kraepelin, E. (1996). La demencia precoz. Buenos Aires: Polemos.
Le Bon, G. (2008). Psicologia das multidões. 1ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes.
Lévinas, E. (2010). Entre nós: Ensaios sobre a alteridade. 5ª ed. Petrópolis: Vozes.
Orwell, G. (2009). 1984. São Paulo: Companhia das Letras.
Orwell, G. (2017). Nós, de E. I. Zamyatin. In G. Orwell. O que é fascismo? E outros ensaios. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras.
Zamiátin, I. (2017). Nós. São Paulo: Aleph.
Zoja, L. (2013). Paranoia: La locura que hace la historia. 1ª ed. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica.
Zuboff, S. (2018). Big Other: Capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização da informação. In: F. Bruno, B. Cardoso, M. Kanashiro, L. Guilhon, L. Melgaço (Orgs.). Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Raul Alves Barreto Lima, Liliana Liviano Wahba

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.